quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

CEOs das empresas do IMPACTO 10X10X10 de #ElesPorElas revelam dados de gênero em relatório lançado durante o Fórum Econômico Mundial

CEOs das empresas do IMPACTO 10X10X10 de #ElesPorElas revelam dados de gênero em relatório lançado durante o Fórum Econômico Mundial/
Alguns dos Campeões do Impacto 10x10x10 com a Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, Emma Wason, e a Diretora Executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka
Foto: ONU Mulheres/Celeste Sloman

Davos, 22 de janeiro de 2016—Dez das maiores empresas do mundo divulgaram informações de diversidade de gênero em suas equipes de trabalho, incluindo dados sobre cargos de liderança e participação de mulheres em seus Conselhos, em relatório inédito sobre paridade de gênero da campanha #ElesPorElas da ONU Mulheres. O anúncio ocorreu no Fórum Econômico Mundial em Davos, onde os chefes das empresas se reuniram ao lado da Sub-Secretária Geral da ONU e Diretora Executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo Ngcuka, e da Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres, Emma Watson.
Como parte da campanha #ElesPorElas, a ONU Mulheres lançou, há um ano em Davos, uma iniciativa chamada IMPACTO 10x10x10, com o objetivo de engajar 10 importantes tomadores de decisão dos setores governamental, corporativo e acadêmico para impulsionar uma transformação para a igualdade de gênero.
Desde que se inscreveram, os Campeões do Impacto 10x10x10 do setor corporativo fizeram da igualdade de gênero uma prioridade institucional. Um ano mais tarde, a transparência dos dados apresentados por esses Campeões em Davos ajudará empresas a medirem seus compromissos e inspirará outros empregadores a fazerem o mesmo.
Os dados do relatório mostram que uma grande lacuna permanece entre a representação das mulheres na força de trabalho em geral, bem como em posições de liderança. Embora a representação geral das mulheres seja de uma média de 39,7% entre as 10 empresas, a proporção de cargos de liderança ocupados por mulheres variou de 11% a 33%. Enquanto este grupo supera médias globais, a ONU Mulheres estabeleceu a paridade como meta para essas empresas. Portanto, os compromissos individuais de cada uma das empresas contemplarão uma variedade de caminhos para alcançar essa meta.
Reconhecendo a importância do tema e a necessidade de progresso, os Campeões do IMPACTO 10x10x10 adquiriram uma posição corajosa em matéria de transparência. Eles se comprometeram a compartilhar periodicamente e publicamente os dados de representação de gênero em suas empresas.
“Saúdo a coragem deste grupo em revelar o status de igualdade de suas empresas e sua evidente dedicação para realizar uma mudança radical. Eles mostram detalhadamente o que já conhecemos como norma global — mulheres são cronicamente sub-representadas em empregos formais, especialmente em cargos de liderança. Com base em suas experiências, podemos identificar e encontrar soluções para transformar setores e, eventualmente, alcançar um mundo igualitário. Essas empresas estão moldando a realidade da liderança corporativa”, disse a Diretora Executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo Ngcuka.
As 10 empresas que fazem parte desse grupo são: Accorhotels, Barclays, Koç Dadas, McKinsey & Company, PricewaterhouseCoopers, Schneider Electric, Tupperware Brands, Twitter, Unilever e Vodafone.
A ONU tem feito desse tipo de parceria uma estratégia fundamental para alcançar a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, que prioriza a igualdade de gênero tanto como um objetivo independente quanto como parte integrante de outros objetivos. A transparência exibida neste relatório é, portanto, crucial para medir os progressos conquistados.
Outras conclusões do relatório incluem:
• 40% dos membros do Conselho da Tupperware e 61% de seus novos contratados são mulheres, tornando-a a empresa do grupo mais próxima de paridade nessas categorias.
• A Accorhotels e a Tupperware Brands alcançaram paridade em seus Conselhos (entre 40-60%).
• Em todas as empresas, as mulheres representam 39,9% das novas contratações. Quatro empresas conseguiram estabelecer uma paridade em suas novas contratações: Barclays, PwC, T
Os Campeões do setor corporativo do IMPACTO 10x10x10 estão relatando representação de gênero nas seguintes categorias:
1. Números gerais da empresa
2. Cargos de liderança
3. Conselho
4. Novas contratações
Para maiores informações sobre o IMPACTO 10x10x10, acesse:
http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/03/ElesPorElas_visao_geral.pdf
O Relatório sobre Paridade Corporativa, do Impacto10x10x10 da #ElesPorElas HeForShe, está disponível em inglês em:
http://www.heforshe.org/~/media/heforshe/files/davos/heforshe_impact10x10x10_parityreport2016_embargo.pdf
Para assinar o compromisso #ElesPorElas HeforShe, acesse: www.heforshe.org

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

ONU lança painel de alto nível sobre empoderamento das mulheres

Secretário-geral afirmou que especialistas vão destacar as interações entre crescimento econômico e gêneros; meta é mobilizar vontade política e liderança para implementar Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
ONU lança painel de alto nível sobre empoderamento das mulheres/
Em Davos, Ban Ki-moon (à dir.) anuncia a criação do primeiro painel de alto nível da ONU sobre Empoderamento Econômico das Mulheres. Foto: ONU/ Rick Bajornas.

Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York
A ONU anunciou a criação de um painel de alto nível sobre o Empoderamento Econômico das Mulheres num evento durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que participou da reunião esta quinta-feira, disse que “os especialistas vão destacar as interações entre o crescimento econômico e gênero para mobilizar vontade e liderança política para implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS.”

Agenda 2030 - Segundo Ban, o grupo vai trabalhar para diminuir as lacunas econômicas entre homens e mulheres que persistem no mundo. O painel fará recomendações para a implementação da Agenda 2030 no sentido de melhorar os resultados econômicos para mulheres e também para promover liderança em um crescimento ambiental sustentável e inclusivo.
Ban disse que os especialistas vão fazer recomendações para governos, setor privado e para o sistema da ONU e parceiros sobre as ações que devem ser adotadas para alcançar os ODS. O chefe da ONU declarou que “o empoderamento das mulheres é um imperativo global”.
Barreiras - Ele afirmou que apesar dos progressos conquistados até agora para promover a igualdade de gêneros, há ainda uma necessidade urgente de lidar com barreiras estruturais ao empoderamento das mulheres.
Pesquisas mostram que as mulheres investem suas rendas na família e na comunidade em que vivem, incluindo nas áreas de educação e saúde. As mulheres continuam ganhando menos do que os homens, têm menos bens e realizam os trabalhos e as atividades mais vulneráveis e mal pagos.
A primeira reunião do painel de alto nível vai acontecer em março de 2016 durante a 60ª Sessão sobre o Estatuto da Mulher, na sede da ONU em Nova York. Os especialistas vão entregar o primeiro relatório com suas recomendações em setembro.

Lançamento de cartilha sobre a disputa internacional de menores brasileiros tem a participação da SPM

Lançamento de cartilha sobre a disputa internacional de menores brasileiros tem a participação da SPM

A secretária de Enfrentamento à Violência da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Aparecida Gonçalves, participou, na  terça-feira (19/01), do lançamento da cartilha sobre a “Disputa de guarda e subtração internacional de menores brasileiros”, no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Aparecida Gonçalves destacou as ações que a Secretaria de Política para as Mulheres desenvolve no apoio às mulheres que disputam a guarda de seus filhos no exterior. “A SPM orienta as mulheres quanto ao acesso a Justiça e faz parte da rede de apoio à mulher com diversos países. Entre eles, Estados Unidos, Itália, Espanha e França”, esclareceu. Também participaram da entrevista para a apresentação da cartilha o Embaixador Carlos Alberto Simas Magalhães, a ministra Luiza Lopes da Silva e o representante da Secretaria de Direitos Humanos, George Lima.
Elaborada pelo Itamaraty , a cartilha é um instrumento importante que tem o objetivo de embasar uma campanha de esclarecimento, no Brasil e no exterior, sobre a problemática da disputa da guarda de menores brasileiros residentes fora do país e filhos de casais binacionais. O documento contém orientações aos pais e mães brasileiras, sobre legislação e práticas adotadas nos países onde residem.
Comunicação Social

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

SPM participa de oficina sobre saúde das mulheres com HIV/Aids

Abertura da Oficina sobre Saúde Integral das Mulheres Vivendo com HIV/Aids. Foto: Divulgação SPM
A secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Rosali Scalabrin, participou da abertura da Oficina sobre Saúde Integral das Mulheres Vivendo com HIV/Aids, nesta terça-feira (19/01), em Brasília. 
A oficina é realizada em parceria com o Ministério da Saúde com o  objetivo de buscar  estratégias para qualificar a atenção para saúde das mulheres vivendo com HIV/Aids.  
Rosali Scalabrin destacou a importância dessa parceria  e da articulação com lideranças sociais do país que atuam na área ou  que vivenciam a realidade, o que resulta no fortalecimento da participação social  e da necessidade de  avançar na implementação da saúde integral das mulheres vivendo com HIV/Aids.
Participam da oficina que acontece até nesta quarta-feira (20/01) vários segmentos da sociedade civil que definirão  os próximos passos para garantir avanços à saúde integral das mulheres vivendo com HIV/Aids. 

Comunicação SocialSecretaria de Políticas para as Mulheres – SPM

Fórum Internacional AWID recebe, até 8/2, inscrições gratuitas de ativistas do Brasil

Encontro tem como tema central: “Futuros feministas: Construindo poder coletivo em prol dos direitos e da justiça”. São aguardadas 2.000 participantes oriundas e oriundos de uma ampla diversidade de movimentos: direitos das mulheres e movimentos feministas, movimentos pela paz, justiça econômica, direitos ambientais e direitos humanos, entre outros
Visite aqui o site do Fórum Internacional AWID
Encontro internacional acontecerá, em maio, na Bahia



Está aberta a seleção para isenção da taxa de inscrição no Fórum Internacional AWID. A organização possibilitará a inscrição gratuita de 200 brasileiras e brasileiros ativistas, movimentos e organizações do Brasil no evento que ocorrerá entre 5 a 8 de maio de 2016, em Sauípe. O prazo de envio é até o dia 8 de fevereiro.
O Fórum Internacional AWID faz parte de um processo político para romper com as opressões e promover visões compartilhadas para um mundo mais justo. Para colaborar com a organização do encontro, estão estruturados os seguintes núcleos: Fórum Feminismos Negros, Núcleo do Ativismo Feminista Jovem, Núcleo de Proteção Integral para Mulheres Defensoras e Intercâmbio Feminista via Internet.
O Fórum tem como objetivo celebrar as conquistas dos últimos 20 anos alcançadas por diversos movimentos sociais e analisar criticamente os aprendizados que possam ser levados adiante, avaliar a realidade atual para identificar as oportunidades e ameaças no que tange à promoção dos direitos das mulheres e de outros grupos oprimidos, buscar estratégias para fortalecer a solidariedade e o poder coletivo entre os diversos movimentos, além de inspirar, energizar e renovar a força e o propósito de empoderamento das mulheres.
São aguardadas 2.000 participantes oriundas e oriundos de uma ampla diversidade de movimentos e setores para construir estratégias coletivamente em prol de futuros feministas: movimentos pelos direitos das mulheres e movimentos feministas (inclusive dando atenção especial a ativistas brasileiras e brasileiros pelos direitos das mulheres) a movimentos pela paz, justiça econômica, direitos ambientais e direitos humanos, entre outros.
Comunidades tradicionalmente sub-representadas ou marginalizadas terão uma forte presença no Fórum, tais como: ativistas feministas jovens; mulheres negras e afrodescendentes; mulheres indígenas; trabalhadoras do sexo; mulheres com deficiência; ativistas trans e ativistas migrantes.

Consultas Nacionais das Mulheres com Deficiência, das Ciganas e das Indígenas serão em março

      
Brasília, 19 de janeiro - A Secretaria de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos realiza, nos dias 1º, 2 e 3 de março de 2016, em Brasília, as Consultas Nacionais das Mulheres com Deficiência, das Ciganas e das Indígenas. Os debates integram as etapas preparatórias para a 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (4ªCNPM). O objetivo principal é assegurar a participação de segmentos específicos e de povos e comunidades tradicionais de todo o país, em especial das regiões mais isoladas, na etapa nacional da 4ª CNPM. 
De acordo com a coordenadora-executiva da 4ª CNPM, Rosali Scalabrin, as consultas são fundamentais para efetivar a participação de grupos que tradicionalmente encontram maior dificuldade de acesso e expressão nos processos convencionais de participação social. “A diversidade das mulheres brasileiras precisa estar representada na 4ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, o que significa garantir visibilidade e voz à pluralidade de segmentos, grupos e etnias de mulheres brasileiras”, afirmou. 
A coordenadora de Diversidade da SPM, Janaína Oliveira, explicou que as consultas serão realizadas em parceria com outros órgãos do governo federal, relacionadas aos três segmentos. “Isso permitirá discutir as especificidades destes segmentos em relação aos eixos temáticos da 4ª CNPM, garantindo visibilidade às questões das mulheres indígenas, ciganas e com deficiência, além de definir delegadas natas, representantes com direito a voz e voto, para a etapa nacional”, explicou. No total, serão escolhidas sete delegadas de cada segmento para participar da etapa nacional. 
4ª CNPM - Durante o ano de 2015, milhares de mulheres mobilizadas em mais de 2.200 municípios em todos os Estados e no Distrito Federal estiveram envolvidas nas etapas preparatórias para a 4ª CNPM. Também foram realizadas outras consultas nacionais, dezenas de conferências livres e uma plenária governamental. 
As participantes são delegadas, com direito a voz e voto, convidadas e observadoras de diferentes segmentos, como das mulheres negras, indígenas, lésbicas, quilombolas, urbanas, do campo, das águas e das florestas, mulheres com deficiência, entre outros. 
O tema da 4ª edição da Conferência é “Mais direitos, participação e poder para as mulheres”. Para orientar as discussões das políticas públicas, foram estabelecidos quatro eixos temáticos: “Contribuição dos conselhos dos direitos da mulher e dos movimentos feministas e de mulheres para a efetivação da igualdade de direitos e oportunidades”; “Estruturas institucionais e políticas públicas desenvolvidas para as mulheres no âmbito municipal, estadual e federal: avanços e desafios”; “Sistema político com participação das mulheres e igualdade”; e “Sistema Nacional de Políticas para as Mulheres”. 
ServiçoConsultas Nacionais das Mulheres com Deficiência, das Ciganas e das IndígenasData: 1º, 2 e 3 de março de 2016Horário da abertura: 16hLocal: A definir.
Acesse as redes sociais:





terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Empoderadas e a Batalha pelo Discurso da Mulher Negra

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As lutas - muitas vezes invisíveis - das mulheres negras é o tema do programa Empoderadas. Foto: divulgação.

De tempos em tempos, uma palavra pouco usada, mas de forte significado, adentra no vocabulário coletivo e passa a ser citada cotidianamente. Tal qual uma roupa que se veste muitas vezes, ela acaba se esgarçando, cabendo a tudo e, por consequência, perdendo parte de seus sentidos. É o caso de palavras como “sensacionalismo”, tão usada na crítica ao mau jornalismo que acabou por significar tudo e nada, ou “neurótico”, espalhada na popularização da psicanálise e meio que banalizando um conceito importante. Palavras, como sabem há muito os linguistas, são as pontes que nos conectam e têm o árduo desafio de traduzir em parcos caracteres como vemos ou como sentimos o mundo.

Talvez uma palavra muito repetida no ano de 2015 – quando a pauta constante sobre a mulher ajudou a tirar um véu de invisibilidade sobre comportamentos sexistas, tidos como naturais – tenha sido “empoderamento”. Ou seja, falou-se muito sobre como tomar o poder, como desnudar posicionamentos machistas, como achar brechas para tomar as rédeas da fala e da fabulação de sentidos sobre as mulheres. É neste contexto que surge um programa chamado Empoderadas, uma websérie independente que visa reapropriar-se da força desta palavra por meio de histórias. Ou seja, o programa não simplesmente reivindica a palavra empoderamento, mas demonstra-a a partir das vidas de mulheres que se empoderaram diante das adversidades.
Obviamente, não são quaisquer histórias, mas sim narrativas de um grupo específico, o de mulheres negras, cujas batalhas por vezes se escondem na trama velada das diferenças. Ser exceção e contabilizar o pertencimento a tantas minorias – ser mulher, ser negra, ser pobre, ser gay, ser trans, ser política, ser sambista, ser bonita, ser feia, ser magra, ser gorda – é ser convocada para lutar diariamente uma guerra invisível, que é a busca pelo direito do discurso, por significar a si mesma e ao seu grupo.

Neste sentido, os programetes de Empoderadas(que duram cada um cerca de seis minutos) concretizam de fato a ideia de empoderamento. Em outras palavras, concedem a essas mulheres ouvidas muito mais que representatividade – ou seja, o direito de terem visibilidade, mas estarem “domesticadas” na fala dos outros (veja aqui análise sobre os enquadramentos no programaEsquenta) – e sim a chance de falarem-se, traduzirem-se, exporem os meandros e as armas empregadas na peleja para qual foram alistadas sem pedir. Para tal objetivo, a estética do programa foca quase exclusivamente no rosto das entrevistadas, como se convidasse o espectador a confrontá-las, a não desviar a face daquilo que elas dizem.

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É este, de fato, o conteúdo de todas as histórias aqui contadas. Dediane Souza expõe a batalha de ser uma “mulher binária”, uma mulher com pinto, cujos espaços de existência costumam ser o da desconfiança e do desrespeito. As empresárias da marca Xongani empoderaram-se por meio de acessórios para mulheres negras, e revelam o racismo institucional que insurge quando uma negra busca linhas de investimento para o próprio negócio. A dançarina Ana Koteban empodera-se ao reivindicar o direito do corpo da negra dançar sem estar associado à sensualidade. A atriz Thais Dias reclama pelo direito de controlar o discurso sobre a mulher negra em um palco, ao invés de aparecer varrendo chão, tal como se preenchesse uma cota de representatividade de sua raça. A sambista Leci Brandão pleiteia o respeito e a escuta no Congresso ao se tornar a segunda deputada negra em São Paulo ao longo de um século.

“É o Carnaval, mas a gente tá indo para uma guerra”, avisa a percussionista Beth Beli. “Meu objetivo é seduzir o racista e assim mudar a maneira de nos enxergar”, conta Alexandra Loras, consulesa da França no Brasil. Ambas as falas não deixam de ser inspiradas em analogias da vida que todas as mulheres contam ali. Que este programa se consolide nas brechas – na “porta dos fundos” da internet, parafraseando o famoso grupo de comédia – e não nas chamadas grandes mídias não deixa um sintoma de que há muita estrada a ser percorrida em busca do definitivo empoderamento das mulheres.

Por Maura Martins Do A Escotilha
http://www.geledes.org.br

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Primeira Vara da Mulher do Interior é inaugurada em Caruaru

O Poder Judiciário do Estado de Pernambuco reforça o enfrentamento aos crimes contra a mulher com a instalação, em Caruaru, da primeira Vara de Violência Doméstica e Familiar do Interior do Estado. O presidente do TJPE, desembargador Frederico Neves, inaugurou a unidade nesta quinta-feira (14/1), no Fórum Dr. João Elísio Florêncio, no Bairro Universitário. Sob coordenação da juíza titular Priscila Vasconcelos Patriota e com atuação de 16 servidores, a unidade funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
O presidente do TJPE, desembargador Frederico Neves, instalou nesta quinta-feira (14/1) a unidade, que funcionará das 9h às 18h no Fórum Dr. João Elísio Florêncio, no Bairro Universitário (Fotos: Assis Lima | Ascom TJPE)
O presidente do TJPE, desembargador Frederico Neves, instalou nesta quinta-feira (14/1) a
 unidade, que funcionará das 9h às 18h no Fórum Dr. João Elísio Florêncio, no Bairro 
Universitário (Fotos: Assis Lima | Ascom TJPE)

A Vara da Mulher finaliza uma série de investimentos da atual gestão do Tribunal em Caruaru, que em 2014 recebeu a 1ª Câmara Regional do TJPE, descentralizando os serviços do 2º Grau de Jurisdição pela primeira vez em 192 anos de história da Justiça Estadual. Em 2015, implantaram-se as Centrais de Agilização Processual, para acelerar feitos mais antigos e de presos provisórios, e de Depoimento Acolhedor, que garante a ouvida segura de crianças e adolescentes vítimas de violência.
Esta é a oitava unidade judiciária especializada nos direitos da mulher a ser implantada em Pernambuco. O serviço já existe no Recife, com duas unidades, e também em Olinda, Igarassu, Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes e Camaragibe. Dois tipos de processos são instaurados quando a queixa da mulher chega ao Judiciário: pode ser aberto um processo civil, com pedido de aplicação de medida protetiva de urgência, ou inicia-se uma ação penal.
Durante a solenidade, o presidente do TJPE afirmou que a inauguração é uma resposta à grande demanda da população de Caruaru. “Precisamos eliminar a violência contra a mulher em nosso Estado. Somente de janeiro a agosto de 2014, 1.172 casos foram atendidos na delegacia especializada deste município. O Poder Judiciário não poderia ficar paralisado ante essa situação, por isso deflagramos o processo de criação desta vara. Trata-se de um serviço essencial que, prestado com eficiência e presteza, encorajará mulheres a buscar ajuda”, declarou Frederico Neves.
A instalação da nova vara contou com a presença secretária da Mulher do Estado, Sílvia Cordeiro, que elogiou a iniciativa do TJPE e exaltou a integração entre os Poderes Constituídos. “A inauguração desta vara significa um passo importante para a Política Estadual da Mulher, pois precisamos do apoio do Judiciário. Os Poderes que compõem o Estado estão fazendo sua parte para mudar os valores e a cultura da sociedade, que precisa reconhecer a mulher como sujeito de direitos”, discursou.
A secretária Especial da Mulher e Direitos Humanos de Caruaru, Katherine Lages, destacou a sensibilidade do Tribunal ao interiorizar o serviço. “Estou emocionada ao viver este dia histórico em Caruaru. Que seja mais um passo para a redução da violência doméstica e familiar contra as mulheres, que merecem uma vida digna e livre de toda sorte de opressões.”
 A secretária da Mulher do Estado, Sílvia Cordeiro, prestigiou a solenidade e destacou a integração entre os Poderes Constituídos para fortalecer a rede de proteção à mulher
A secretária da Mulher do Estado, Sílvia Cordeiro, prestigiou a
 solenidade e destacou a integração entre os Poderes Constituídos para fortalecer a rede de proteção à mulher

Prestigiaram a cerimônia os desembargadores da Câmara Regional de Caruaru Fábio Eugênio de Oliveira Lima, Humberto Vasconcelos e Waldemir Tavares de Albuquerque Filho; o diretor do Foro de Caruaru, juiz José Tadeu dos Passos e Silva; os juízes Orleide Rosélia Nascimento Silva, Brasílio Guerra, Elias Soares da Silva, Francisco de Assis Morais Júnior, José Adelmo Barbosa Costa e José Fernando Santos de Souza; a Delegada da Mulher de Caruaru, Jimena Gouveia; a presidente interina da Seccional Caruaru da OAB, Catarina Oliveira; o promotor de Justiça Paulo Augusto; o defensor público Clodoaldo Batista; o tenente-coronel Adelson Carneiro de Andrade e o comandante Abel Ferreira (Dinter-PE).
Rede de proteção – Garantir uma vida digna e segura para as mulheres é o objetivo do serviço, que se integra a diversas iniciativas que compõem a rede de proteção no Estado, como as Delegacias Especializadas da Mulher, a Ouvidoria da Mulher do Estado de Pernambuco, os serviços de acolhimento das Secretarias da Mulher do Estado e dos municípios e a Central de Atendimento à Mulher – Disque 180.
Esses serviços garantem a aplicação da Lei Maria da Penha, que oferece várias medidas para proteger a integridade física e psicológica, a família e o patrimônio da mulher, como afastamento do agressor do lar e proibição do agressor de se aproximar da vítima. Caso necessário, a mulher poderá ser encaminhada para um abrigo, em lugar sigiloso.
Texto: Cláudia Vasconcelos | Ascom TJPE

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Médico diz que usar papel higiênico prejudica a saúde da vagina: qual seria o certo então?

SAÚDE
 
O cuidado com a higiene íntima feminina é sempre especial, afinal, vulva, vagina e todo o entorno são sensíveis e suscetíveis a infecções, irritações e outras alterações no mínimo incômodas. Mas, apesar de todo nosso zelo pelo que acontece “lá embaixo”, existe um produto que você muito provavelmente usa e, segundo médico, é extremamente nocivo: o papel higiênico. Entenda o motivo a seguir.

Papel higiênico faz mal à saúde íntima? 

Em entrevista ao site ao blog Saúde sem Neura, do site R7, o ginecologista e obstetra Paulo César Giraldo, professor da Unicamp, explica por que o papel higiênico não é, nem de longe, a melhor opção que temos para fazer a higiene íntima.
No vídeo, o médico conta que a maioria das mulheres usa papel higiênico após a evacuação e após a micção e, segundo ele, isso é extremamente nocivo. Os motivos citados pelo ginecologista são o traumatismo, a irritação e a coceira causados pelo produto.
De acordo com o médico, o papel poderia causar machucado ou irritar a área íntima.

“Idealmente toda mulher deveria usar água corrente e um produto de boa qualidade, com pH adequado para essa área”, recomenda.
Mas, se você estiver no trabalho, na escola ou em qualquer outro lugar onde não haja um chuveiro, a sugestão de Paulo César Giraldo é lançar mão de lenços umedecidos, que, em suas palavras, podem eliminar resíduos de urina, fezes e até de papel e te deixar mais agradável e confortável com essa situação.
No entanto, é importante ressaltar que nem todos os médicos concordam e recomendam o uso de lenço umedecido para higiene íntima. Isso porque ele pode conter mais componentes químicos que o papel higiênico, o que aumenta a chance de ocorrerem irritações, e seria capaz de remover a camada protetora da mucosa íntima. Portanto, na dúvida, consulte seu médico de confiança.

Dilma pede que mulheres denunciem agressão


A presidenta Dilma Rousseff utilizou o Twitter para encorajar as mulheres vítimas de violência a denunciarem situações de agressão, assédio ou estupro. Ao divulgar o canal de atendimento à mulher – o telefone de número 180 -, ela disse que a sociedade brasileira “precisa avançar e acabar de vez com a cultura da violência”.

“Não aceite e não compactue! Denuncie”, escreveu Dilma, na rede social. A presidenta repercutiu a notícia de que, durante a prova do Exame Nacional do Ensino Médio, cujo tema em 2015 foi a violência contra a mulher, pelo menos 55 mulheres denunciaram atos de violência que elas mesmas sofreram ou que presenciaram.

“Muitas redações preocuparam os avaliadores com depoimentos de pessoas que foram assediadas, estupradas ou testemunharam violência. Em muitos destes casos a violência está bem próxima. A redação foi momento de reflexão não só para os participantes, mas para toda a sociedade. O aumento da conscientização sobre a violência contra a mulher ajuda a combater a violência”, disse Dilma.

De acordo com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a pasta acionou o Ministério Público Federal e a Secretaria de Políticas para as Mulheres. Segundo o órgão, a única que pode procurar ajuda ou mesmo divulgar a redação é a própria mulher.

Canais de proteção à mulher

Na última década foram feitos mais de 4,7 milhões de atendimentos pelo telefone 180 - Central de Atendimento à Mulher. Em 2015, foram 634.862 casos.

site da Secretaria de Políticas para as Mulheres detalha por estado os serviços especializados de atendimento à mulher, com os respectivos telefones e endereços.

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão pode ser acessada por meio da Sala de Atendimento ao Cidadão do Ministério Público Federal e pelo telefone 61 3105-6001.

Edição: Beto Coura

 Paulo Victor Chagas – Repórter da Agência Brasil

‘As crianças negras são mais punidas do que as brancas’, diz pedagoga

Existe racismo na sala de aula, e ele começa na educação infantil. Isso é o que afirma Ellen de Lima Souza, mestre e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e diretora do Itesa (Instituto de Tecnologia, Especialização e Aprimoramento Profissional).
Segundo a pedagoga, a escola normalmente é um ambiente inóspito para as crianças negras. Ellen estudou como elas são vistas por professoras de educação infantil e constatou duas visões distintas: o negro que gera nas docentes piedade (uma postura paternalista) ou expectativa (que deve necessariamente assumir uma postura ativista). Para mudar essa realidade, ela propõe que os professores assumam uma postura de protagonismo em sala de aula, de geradores de conhecimento, para trabalhar a autonomia e a independência nas crianças.
UOL Educação – Crianças também podem ser racistas?
Ellen de Lima Souza – Sim, podem. E são. As pessoas não esperam que elas reproduzam atitudes racistas. Depois da família, o primeiro ambiente de socialização é a escola, onde a criança é mais exposta ao racismo.

UOL – De que forma o preconceito se apresenta em sala de aula?
Souza – Quando você tem criança que se recusa a se sentar ao lado de outra negra, que diz que tem nojo de negro, que vê o negro sempre em papéis de subalternidade; quando crianças negras não são selecionadas a participar ou não têm protagonismo em atividades culturais, festas. Isso faz com que as crianças naturalizem a desigualdade e reproduzam ofensas, como quando dizem que o negro é feio, burro, cheira mal e outras coisas bastante pesadas.

UOL – Como os professores costumam tratar o tema na educação infantil?
Souza – Na minha dissertação [de mestrado], fui buscar professoras premiadas pelas práticas que já exerciam, de uma educação para a igualdade, e percebi que elas são atingidas por duas percepções básicas em relação aos negros: um sentimento forte de paternalismo, ela tem pena da criança negra, entende que ela vai necessariamente sofrer o racismo, e tem um sentimento de piedade; a outra percepção é a que gera nas professoras uma expectativa de que a criança negra tem que ser ativista. Por outro lado, existem as professoras que não têm essa consciência de uma educação para a igualdade. Essas acreditam que o Brasil vive uma democracia racial, trata o negro com indiferença e pune a criança negra com muita frequência. Aliás, desde bebês, as crianças negras são mais punidas do que as crianças brancas, recebem apelidos depreciativos e, nas situações de conflito, são as preteridas ou as culpadas.

UOL – Então como o tema deve ser tratado em sala de aula?
Souza – Na dissertação, a primeira coisa que eu proponho é que o professor crie metodologias e didáticas, ele é o protagonista em sala de aula, tem um papel social, é alguém que garante direitos, que deve ver o sujeito como autor e não reprodutor do conhecimento. Depois, eu trabalho com três conceitos básicos, baseados na mitologia iorubá: as perspectivas da ancestralidade, da corporalidade e da oralidade. Esses conceitos ajudam a criança, seja negra ou não negra, a desenvolver sua identidade, suas relações, desenvolver a emoção, física e intelectualmente, das várias formas possíveis. O professor precisa lidar com as crianças para potencializar e valorizar a condição de ser negro, já que a criança aprendeu sempre que é algo ruim. Essas perspectivas fazem com que as crianças sejam cada vez mais independentes, autônomas, aprendam a respeitar, dão a ideia de pertencimento étnico, de que a criança não está sozinha.

UOL – E o que fazer quando os pais não querem que os filhos participem dessas atividades?
Souza – Eu acho que é preciso procurar o Ministério Público, a Justiça. Ensinar história e cultura afro-brasileira é primordial. Se esse pai ou essa mãe não quer o filho estude cultura africana e afro-brasileira, ele deve pagar uma escola confessional. A escola pública é de todos, é da criança negra, da não negra, da boliviana, e se você não quer que o seu filho aprenda esses valores, tira do serviço público. A escola pública brasileira que tem que ser laica. A gente aprendeu os valores cristãos, por que as crianças não podem aprender parte da filosofia africana?

UOL – Quais são os impactos de discutir racismo na educação infantil?
Souza – A criança que tem condição de trabalhar a partir de uma educação igualitária vai além do que está posto, tem novas perspectivas de valores, uma nova cosmologia de mundo. Ela recebe essa gama de informações e fica com pensamento mais abrangente. Indiretamente, faz com que ela saiba lidar com questões de gênero, de orientação sexual, diferenças entre empobrecidos e não empobrecidos.

Marcelle Souza

Mulheres em situação de violência devem procurar o Ligue 180


O Ministério da Educação (MEC) informou, nesta segunda-feira (11/01), que em meio às 5,5 milhões de redações corrigidas sobre a violência contra a mulher no Brasil, escritas por alunos que prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2015, inúmeros textos alertaram a equipe de examinadores por conter relatos vívidos de agressão e assédio.
O ministro da Educação disse que 55 redações chamaram a atenção dos avaliadores pelo teor. “Nós verificamos em muitas redações depoimentos muito preocupantes de pessoas que foram assediadas, estupradas ou testemunhas de casos de violência. Em muitos destes casos a violência está muito próxima. A redação foi um grande momento de reflexão não só para os participantes, mas para toda sociedade”, disse Mercadante.
Diante desta situação, o Ministério da Educação foi orientado pelo Ministério Público Federal a divulgar os canais institucionais de proteção à mulher: Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 e a Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher que conta com mais de 1.300 serviços especializados, como delegacias da mulher (Deams), juizados, defensorias, promotorias, centros de referência e casas de abrigo. As cidades de Brasília e Campo Grande já contam com Casas da Mulher Brasileira que realizam atendimento integral e humanizado das mulheres em situação de violência.
A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos reafirma a importância das mulheres em situação de violência de procurarem a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. O serviço está estruturado para atender as denúncias de violências praticadas contra as mulheres em todo o país e de brasileiras residentes em mais 16 países da América e Europa (Argentina, Bélgica, Espanha, EUA (São Francisco), França, Guiana Francesa, Holanda, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, Noruega, Paraguai, Portugal, Suíça, Uruguai e Venezuela).
A Central funciona 24 horas, todos os dias da semana, inclusive finais de semana e feriados. Desde março de 2014, o Ligue 180 atua como disque-denúncia, com capacidade de envio de denúncias para a Segurança Pública com cópia para o Ministério Público de cada estado.
O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública, gratuito e confidencial, pois preserva anonimato das vítimas e dos denunciantes, e é oferecido pela SPM desde 2005. A Central recebe denúncias de violência, reclamações sobre os serviços da rede de atendimento à mulher e orienta sobre os direitos e sobre a legislação de proteção à mulher, fazendo o encaminhamento para outros serviços quando necessário.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

‘A figura de uma mulher negra é subversiva pela representatividade’, diz artista

(Folha de S.Paulo, 04/01/2016) Jennifer Borges, 28, ou simplesmente J. Lo, nasceu e cresceu em Irajá, zona norte do Rio de Janeiro, querendo ser “artista de galeria”, mas achava que essa realidade estava longe de ser a sua.

Inspirada pela mãe, psicopedagoga, que abriu caminhos e foi a primeira da família a ter ensino superior, Jennifer seguiu caminhos paralelos à arte até os 27 anos: se graduou em história pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), onde hoje cursa letras.
jennifer borges_artista plastica e arte educadora
A artista plástica e arte educadora, Jennifer Borges, posa para foto em Irajá,
 no Rio de Janeiro (Foto: Na Lata)

A jovem resolveu se aventurar no grafite há um ano, após um empurrão de uma amiga. Acabou virando professora, mas de grafite em escolas municipais cariocas.
Foi quando Jennifer conheceu a Rede Nami, associação feminista de grafiteiras e militantes que usam artes urbanas para promover os direitos das mulheres, fundada pela artista plástica Panmela Castro, 34, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2015. Por meio da organização, J.Lo e sua arte chegaram à Galeria Scenarium, no centro do Rio, em setembro de 2015.
“Foi surreal. Nunca imaginei que uma menina preta, pobre, periférica e sapatão conseguiria um dia estar em uma galeria de arte”, conta.
A carioca participou do projeto Afrografiteiras, um programa de formação em arte urbana voltado para mulheres afrobrasileiras.
Leia a seguir o depoimento de Jennifer Borges à Folha.
Meu nome é Jennifer Borges, mas sou conhecida como J. Lo.
Comecei a grafitar há um ano. Uma amiga de São Paulo estava aprendendo as técnicas e fez um desenho na parede da minha sala, fiquei observando e resolvi que iria aprender.
Eu já tinha noção de desenho e arte, sou tatuadora, mas não de grafite.
Comecei a dar oficinas de grafite em uma escola municipal do Rio para crianças e jovens do ensino fundamental 1 e 2. Lá, eu não só ensinei, mas aprendi, foi onde fiz meu primeiro grafite, retratei Nelson Mandela. A paixão pelo grafite foi instantânea.
Virei arte educadora e hoje dou aula de grafite em três escolas municipais por meio do Programa Mais Educação, do governo federal.
Primeiro, ensino dentro da sala de aula aos meus alunos, que têm em média de 7 a 14 anos, técnicas e estilos de desenho de grafite. Depois, eles começam a trabalhar o desenho e quando já está maduro, passo as técnicas de ampliação e finalmente vamos para a prática na parede.
Depois das aulas de grafite, as professoras dos meus alunos falam que as notas deles subiram, que aprenderam a ter disciplina.
O grafite me traz paz, me sinto muito livre, mais do que poderia ser. A arte é uma terapia e é o que me faz feliz e me dá orgulho de mim mesma.
No final de 2014, saiu uma convocatória que selecionaria 30 meninas afrobrasileiras para fazer um curso de formação em arte urbana, empreendedorismo social, gestões de gênero e de negritude voltado ao grafite. Me inscrevi e fui selecionada.
Estava esperando por um curso no qual eu fosse aprender o beabá do grafite. No entanto, as aulas foram muito além do que imaginava.
As meninas grafiteiras, que orientaram a formação, eram muito preocupadas com o nosso aprendizado e que nós expressássemos nossa política, negritude e outras questões pessoais na arte.
A intenção da formação também era que nós soubéssemos multiplicar esse conhecimento para passar para outras pessoas.
NA GALERIA
Recebemos a notícia de que as meninas que concluíssem o curso teriam suas artes expostas em uma galeria. Eu enlouqueci. Larguei o emprego e tranquei a faculdade por um período para poder me dedicar mais.
Eu sou historiadora, com foco de pesquisa em mulheres na inquisição. Fiz um estudo sobre bruxaria. Então, quis levar esses conceitos para dentro da galeria.
Elaborei uma obra que representa as bruxas, que foram mortas pela igreja por causa de uma hiperssexualização. A arte que criei é uma vagina, feita com madeira, massa modeladora e instalações elétricas.
Essa composição é para representar a mulher que dá a vida e o único órgão que existe no corpo feminino para proporcionar prazer.
A outra obra é uma aplicação em stencil e retrata uma mulher negra espelhada com a língua para fora, que simboliza o antiamor e a lesbiandade.
Foi a coisa mais maravilhosa do mundo poder estar na galeria ao lado das outras afrografiteiras. É surreal.
Eu sempre quis ser artista desde pequena, mas nunca imaginei que uma menina preta, pobre, periférica e sapatão conseguiria um dia estar em uma galeria de arte.
Quando estreou a exposição, chorei muito. Foi uma emoção gigante. Não tenho como agradecer a Rede Nami e a Panmela Castro por causa disso.
O que eu aprendi nas aulas melhorou minha arte em tudo, no grafite, na tatuagem e na ilustração.
REPRESENTATIVIDADE NEGRA
Depois disso, tive uma oportunidade de fazer um grafite para a Anistia Internacional e retratei minha avó.
Ela foi uma mulher negra que sofreu muito, antes de morrer, em 2008. Minha avó era muito pobre e se casou com um homem branco na tentativa de embranquecer as filhas, para que elas não sofressem tanto racismo.
Para mim, minha avó é uma fênix, símbolo da ressurreição e da força. Representá-la de forma artística e em lugares onde passam pessoas é muito importante.
A figura de uma mulher negra é subversiva pela representatividade. Temos uma mídia que é sempre branca. As mulheres que aparecem são sempre brancas, seguem um padrão estético, higienizado e europeu.
Quando você passa na rua e se reconhece em uma imagem, se sente mais forte e encorajada para ser quem é. Não só se assumir sua negritude, seu cabelo, mas enfrentar o racismo e se empoderar.
A simbologia de ter diversas mulheres negras em uma galeria pode ser um estímulo para outras mulheres negras.
Agora, tento não projetar muita expectativa no grafite, porque tenho medo de me decepcionar.
Quero passar uma mensagem positiva de empoderamento negro, lésbico e feminino pelas ruas e ensinar as pessoas, que não têm a oportunidade de pagar um curso, a se expressar.
O que vier é lucro, eu não esperava chegar até aqui.
(…) Depoimento a
Eliane Trindade – Editora do Prêmio Empreendedor Social
Olívia Freitas – Enviada especial ao Rio