Participante da 1ª Conferência Nacional de Política Indigenista, ela ressalta a oportunidade de diálogo e articulação para a garantia de direitos e é categórica: “O nosso recado é que não vamos e não podemos abrir mão dos direitos. Não vamos abrir mão da nossa terra. O Estado brasileiro tem a obrigação de demarcar as terras indígenas. Tem a obrigação de cumprir a Constituição Federal. Independente de crise política e financeira, o nosso compromisso é com a nossa pauta. E o compromisso do Brasil tem que ser com os nossos direitos”. Leia a primeira da série de cinco entrevistas com as ativistas do Voz das Mulheres Indígenas
Assista aqui a série de depoimentos de mulheres indígenas participantes do projeto Voz das Mulheres Indígenas no Youtube da ONU Mulheres Brasil
Confira aqui a galeria de fotos do projeto Voz das Mulheres Indígenas.
Confira aqui a galeria de fotos do projeto Voz das Mulheres Indígenas.
Sônia Guajajara é membro da
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Fotos: Isabel Clavelin/ONU Mulheres
Fotos: Isabel Clavelin/ONU Mulheres
Empoderamento e incidência política. Estas
são palavras de ordem que o Grupo de Referência e as Multiplicadoras do projeto
Voz das Mulheres Indígenas têm propagado nas aldeias indígenas brasileiras. A
iniciativa conta com a assessoria técnica e apoio da ONU Mulheres Brasil e da
Embaixada da Noruega.
Desde junho de 2015, 22
lideranças do movimento de mulheres indígenas estão atuando para identificar as
demandas de outras mulheres indígenas, articulando pauta política que possa ser
representantiva da maior parte dos 305 povos existentes no país. Em 13 de
dezembro, o Grupo de Referência e as Multiplicadoras do projeto Voz das
Mulheres Indígenas reuniram-se em Brasília, na Casa da ONU Brasil, para fazer
um balanço das ações.
Até o momento, mulheres
indígenas de 56 povos já posicionaram a sua visão sobre violação de direitos;
empoderamento político; direito à terra e processos de retomada; direito à
saúde, educação e segurança; tradições e diálogos interageracionais. O
levantamento das demandas tem sido feito em visitas às aldeias e a espaços
políticos, tais como as etapas preparatórias das Conferências de Política
Indigenista, de Políticas para a Juventude e de Políticas para as Mulheres.
Uma das principais
lideranças do projeto Voz das Mulheres Indígenas é Sônia Guajajara, integrante
da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Ela explica que o projeto
Voz das Mulheres Indígenas tem colaborado para “tentar unificar uma pauta,
trazer as mulheres não fisicamente, mas com suas ideias e demandas. A gente tem
isso para definir qual a pauta comum das mulheres indígenas brasileiras,
tentando alcançar a diversidade étnica e cultural no sentido de ver qual é a
nossa demanda e como podemos atuar com maior participação e incidência das
mulheres em todos os processos de decisão e discussão”.
Sônia é da povo
Tenetehara e nascida no Maranhão. Dentre as demandas políticas dos povos
indígenas no país, ela destaca a garantia de direitos para “não permitir o
retrocesso dos direitos adquiridos na Constituição Federal. A principal luta
continua sendo a garantia do território, porque a partir daí a gente consegue garantir
as outras políticas sociais, culturais e políticas para as mulheres. A gente
não tem saúde diferenciada para as mulheres indígenas. Há especificidades que
precisam ser atendidas”.
Articuladoras
do projeto Voz das Mulheres Indígenas reuniram, na Casa da ONU Brasil, em
Brasília.
Um dos espaços para a reivindicação de
direitos é a Conferência Nacional de Política Indigenista,
que se se encerrou em 17 de dezembro, em Brasília. O tema central da
conferência foi “A relação do Estado Brasileiro com os Povos Indígenas no
Brasil sob o paradigma da Constituição de 1988”. Para Sônia Guajajara, a
garantia dos direitos constitucionais é um desafio para o Brasil.
“Temos observado que a
relação do Estado brasileiro é ainda muito distante dos povos indigenas, não
respeita a diversidade, os direitos, as especificidades nem a presença dos
povos originários. Esse tema é para a gente discutir isso. Como estamos sendo tratados
dentro de um país em que somos os verdadeiros donos. A conferência foi um
processo importante de diálogo e conversa. Conseguiu alcançar a diversidade de
povos e terras indígenas. Nesse momento difícil de conjuntura política e de
ataque aos povos indígenas, foi um momento muito oportuno para avaliar a ação
indigenista do Estado brasileiro, mas também de propor novas diretrizes,
reafirmar nossos direitos e também para pensarmos nossas estratégias, dos
movimetnos e povos indígenas, para fazer esse enfrentamento político”, afirma.
Bastante categórica,
Sônia vai direto ao ponto na defesa dos direitos dos povos indígenas
brasileiros. “O nosso recado é que não vamos e não podemos abrir mão dos
direitos. Não vamos abrir mão da nossa terra. O Estado brasileiro tem a
obrigação de demarcar as terras indígenas. Tem a obrigação de cumprir a
Constituição Federal. Independente de crise política e financeira, o nosso
compromisso é com a nossa pauta. E o compromisso do Brasil tem que ser com os
nossos direitos”, pontua.
Identidade e
territorialidade – Na entrevista ao site
da ONU Mulheres Brasil, Sônia Guajajara é reveladora dos valores culturais e da
cosmovisão indígena sobre território, que transpõem a compreensão material das
terras indígenas.
“Para nós, território é
todo o conjunto. É o universo, onde estão todas as coisas que garantem a nossa
sobrevivência, o exercício do nosso modo de vida no sentido cultural, político
e a relação íntima com a natureza e meio ambiente. Não é terra, lote ou bem que
se quer para vender. É espaço onde se tem relação muito íntima com a água, o
sol, a lua, as estações, as árvores. É todo esse conjunto. Não tem como falar
em território se não se tem todo esse conjunto livre. A gente sempre diz que
indío sem território deixa de existir. Sem território não temos como manter
viva a nossa identidade. É a partir disso que a gente consegue nos reafirmar e
nos manter como povos indígenas”, considera.
E detalha a relação
entre território e gênero: “Para as mulheres, isso é ainda mais forte. Para
nós, terra é como mãe. A terra é a nossa mãe, a nossa protetora. É uma relação
sagrada e onde temos tudo. A gente acredita que a terra é que dá toda a força
para as mulheres atuarem e exercerem o seu próprio jeito”.
Projeto Voz
das Mulheres Indígenas tem o apoio da ONU Mulheres Brasil e da Embaixada da
Noruega
Mobilização
das indígenas – As
primeiras organizações de mulheres indígenas surgiram na década de 1980:
Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro e Associação de Mulheres do
Distrito de Taracuá. Contribua, resgatando o histórico dessas e de outras
organizações de mulheres indígenas existentes do seu povo, estado e região.
Povos
indígenas no Brasil –
Conforme o censo de 2010, cerca de 900 mil indígenas vivem no Brasil. Destes,
450 mil são mulheres e têm menos de 22 anos. A população indígena brasileira
está dividida em 305 etnias que falam 274 línguas.
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