Lançadas nesta semana, diretrizes nacionais
sobre feminicídio querem acabar com violência de gênero. Documento
publicado nesta semana foi elaborado pela ONU Mulheres Brasil, por
órgãos do governo brasileiro e pelo Escritório de Direitos Humanos das
Nações Unidas.
O objetivo é incluir a perspectiva de gênero nos processos de
investigação e julgamento de crimes de feminicídio, aprimorando as
condutas dos diversos profissionais envolvidos.
Em parceria com o governo brasileiro e o Escritório do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), a ONU
Mulheres publicou
na sexta-feira (8) as “Diretrizes Nacionais para Investigar, Processar e
Julgar com Perspectiva de Gênero as Mortes Violentas de Mulheres –
Feminicídios”.
O documento contém recomendações para a revisão dos procedimentos de
perícia, polícia, saúde e justiça que lidam com ocorrências de
feminicídio. O objetivo é adequar a resposta de indivíduos e
instituições aos assassinatos de mulheres, a fim de assegurar os
direitos humanos das vítimas à justiça, à verdade e à memória.
No Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a
quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS). Em 2015, o Mapa da Violência sobre homicídios entre o público
feminino revelou que, de 2003 a 2013, o número de assassinatos de
mulheres negras cresceu 54%, passando de 1.864 para 2.875.
Na mesma década, foi registrado um aumento de 190,9% na vitimização
de negras, índice que resulta da relação entre as taxas de mortalidade
branca e negra. Para o mesmo período, a quantidade anual de homicídios
de mulheres brancas caiu 9,8%, saindo de 1.747 em 2003 para 1.576 em
2013. Do total de feminicídios registrados em 2013, 33,2% dos homicidas
eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.
“As Diretrizes Nacionais buscam eliminar as discriminações a que as
mulheres são alvo pelo machismo, pelo racismo, pelo etnocentrismo, pela
lesbofobia e por outras formas de desigualdades que se manifestam desde a
maneira como elas vivem, a deflagração de conflitos com base em gênero e
os ciclos de violência, que culminam com as mortes violentas”, explicou
a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman.
“Feminicídios são assassinatos cruéis e marcados por impossibilidade
de defesa da vítima, torturas, mutilações e degradações do corpo e da
memória. E, na maioria das vezes, não se encerram com o assassinato.
Mantém-se pela impunidade e pela dificuldade do poder público em
garantir a justiça às vítimas e a punição aos agressores”, disse.
Lei de 2015 tipificou crime
A ONU Mulheres e o governo esperam que a publicação contribua para a implementação da Lei do Feminicídio (13.104/2015),
que alterou o Código Penal brasileiro ao tipificar esse crime –
homicídio cometido com requintes de crueldade contra mulheres por
motivações de gênero. O lançamento das Diretrizes quer Incluir a
perspectiva de gênero como hipótese inicial das investigações dos
assassinatos.
Segundo a secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da
Justiça, Regina Miki, as diretrizes proporcionarão a capacitação de
policiais e peritos para que tenham uma visão diferenciada. “Terá aquele
olhar de que aquela mulher morreu pela condição de ser mulher”,
afirmou.
Para a secretária especial de Políticas para as Mulheres do
Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos
Direitos Humanos, Eleonora Menicucci, as diretrizes provocarão mudanças
nas condenações e prisões dos agressores de mulheres. “A Lei do
Feminicídio representa uma mudança cultural numa sociedade patriarcal”,
destacou.
Menicucci também afirmou que o governo promoverá uma sensibilização a
nível nacional para que todos os estados apliquem as Diretrizes.
Motivações de gênero e condutas adequadas
Na nova legislação, a violência doméstica e familiar e o menosprezo
ou discriminação à condição de mulher são descritos como elementos de
violência de gênero e integram o crime de feminicídio.
As Diretrizes Nacionais detalham as motivações baseadas em gênero que
podem estar por trás de episódios violentos: sentimento de posse sobre a
mulher; controle sobre seu corpo, desejo e autonomia; limitação da sua
emancipação profissional, econômica, social ou intelectual; tratamento
da mulher como objeto sexual; e manifestações de desprezo e ódio pela
mulher e por sua condição de gênero.
O documento também apresenta recomendações específicas para cada fase
da investigação policial e do processo judicial e seus respectivos
encarregados.
As etapas são dirigidas por diversos profissionais, como bombeiros,
socorristas e demais profissionais de saúde, guardas municipais,
policiais civis, militares e federais, peritos, médicos legistas,
funcionários cartoriais, promotores de justiça, defensores públicos,
magistrados, jornalistas, entre outros.
Brasil é protagonista na implementação nacional de protocolo regional
As Diretrizes Nacionais são baseadas no Modelo de Protocolo
Latino-Americano de Investigação de Mortes Violentas de Mulheres por
Razões de Gênero. O Brasil foi escolhido como país-piloto para o
processo de adaptação do documento internacional e de sua incorporação
às normativas e diretrizes nacionais.
Os critérios de seleção do país incluíram a prevalência e relevância
das mortes violentas de mulheres por razões de gênero no território
nacional, a capacidade de implementação das Diretrizes no sistema de
justiça criminal, a existência prévia de relações interinstitucionais
entre os parceiros, a capacidade técnica dos escritórios da ONU Mulheres
e do ACNUDH para desenvolver o projeto no Brasil e a presença de
representação diplomática da Áustria, cujo governo apoia a iniciativa.
A elaboração das Diretrizes mobilizou não apenas os organismos da ONU
já citados, mas também a campanha do secretário-geral da ONU “UNA-SE
pelo Fim da Violência contra as Mulheres”.
O governo do Brasil participou da concepção do documento por meio da
Secretaria de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da
Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos e do Ministério da
Justiça.
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