segunda-feira, 25 de julho de 2016

25 de Julho- 25 de julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha A data é um marco internacional da luta e resistência da mulher negra contra a opressão de gênero, o racismo e a exploração de classe

A data é um marco internacional da luta e resistência da mulher negra contra a opressão de gênero
A data é um marco internacional da luta e resistência da mulher negra contra a opressão de gênero

A data é um marco internacional da luta e resistência da mulher negra contra a opressão de gênero, o racismo e a exploração de classe. Foi instituída, em 1992, no I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, para dar visibilidade e reconhecimento a presença e a luta das mulheres negras nesse continente.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Queimada por ex e após 224 cirurgias, jovem combate violência

Espancada, queimada e jogada da janela pelo ex-companheiro em 2013, em Porto Alegre, Bárbara Penna, 21, já passou por 224 cirurgias –e precisa de mais sete. Seus dois filhos e um vizinho que tentou salvá-los morreram asfixiados no incêndio.
O agressor, João Guatimozin Moojen Neto, 25, está preso, mas ainda não foi julgado –ele confessou o crime. Um instituto com o nome dela será lançado para ajudar mulheres vítimas de violência doméstica e sua história irá virar documentário.
Nasci em Goiânia e me mudei para Porto Alegre aos quatro anos, por causa do trabalho do meu pai, advogado.
Conheci o João em 2011, aos 16, pelo Orkut. Tinha acabado de perder meu pai e estava grávida de seis meses da minha filha, que o João registrou no nome dele. Vivia em situação precária com a minha mãe, e ela me expulsou de casa devido à gravidez.
Conheci a mãe dele, e ela me deu a primeira roupinha para a minha filha, quando eu já estava quase dando à luz. Fui acolhida. Pensei: “É essa família que eu quero”.
Ele começou a demonstrar muito ciúmes depois que ganhei minha filha porque emagreci. Deixava de ir à escola e de trabalhar para me vigiar.
Bárbara Penna, vítima de violência doméstica, foi queimada e jogada da janela pelo ex-companheiro (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Bárbara Penna, vítima de violência doméstica, foi queimada e jogada da janela pelo ex-companheiro (Foto: Rafaella Fraga/G1)
As primeiras agressões eram verbais. Ele me humilhava. Dizia que merecia ficar feia e quebrava minha chapinha. Terminamos várias vezes, mas eu não tinha para onde ir.
Meu segundo filho nasceu prematuro de sete meses em 2013. Ele não me batia grávida, mas me dava beliscões.
Ele reclamava até do trajeto para buscar minha filha, Isadora, que ficava na creche porque eu passava o dia todo no hospital. Meu filho ficou dois meses na UTI. Ele não aceitava que eu tinha que sair.
Ele deixou a casa da mãe ao nos separarmos e foi morar com a avó, no apartamento onde tudo aconteceu. Ele usava drogas e escondia isso.
Lembro que me ligou para ir ao apartamento, quando a avó estava fora, porque queria ver os filhos. O Henrique tinha três meses. “Ele está mudando, quer ficar com os filhos.” Não vi maldade e fui.
A AGRESSÃO
Discutimos. Ele quis voltar e fui dormir. Era madrugada, meus filhos já estavam dormindo no quarto. Fui para a sala deitar no sofá-cama. Acordei com ele me espancando, meu nariz sangrava. Ele me arrastou pelo cabelo.
Tentei ligar para a polícia, e ele quebrou o telefone. “Para! Eu te perdoo.” Falei isso para ele se acalmar, para eu pensar em como salvar meus filhos. “Cala a boca que eu vou te matar”, ele respondeu.
Ele me obrigou a deitar de bruços e sentou nas minhas costas. Puxava minha cabeça para quebrar meu pescoço. Desmaiei e acordei com o calor. Ele jogou álcool na minha cara e riscou o fósforo.
Levantei desesperada e ele me empurrou de volta para as chamas do sofá. Eu gritava. Consegui levantar e vi ele espalhar álcool pela casa.
Gritei por socorro. Fui na janela, em chamas, e ele me jogou de lá. Embaixo, caída, gritava pelos meus filhos e vi ele se aproximando. Gritei para tirarem ele de perto. Ele viu que eu estava viva e me acusou de tentar matar todos.
Fui colocada na ambulância com ele, que ficou rindo. Ele não tinha fratura, nada. Cheguei ao hospital, dei meu depoimento, e ele confessou.
Tive 40% do corpo queimado. Calcanhares, tornozelos e vértebras ficaram quebrados, e o crânio, afundado. Sofri duas paradas cardíacas.
Eu passei por 224 cirurgias e faltam, no mínimo, sete. Fiquei em coma por quase dois meses, tive infecção generalizada. Soube da morte dos meus filhos pouco antes de ter alta, quatro meses depois.
Quando perguntei, me disseram que eles estavam bem. Achei que logo veria eles, por isso sobrevivi. Se tivessem me falado antes, não teria forças.
A família dele nunca pediu desculpa ou ofereceu ajuda. Ele está preso, ainda não foi julgado. Vi ele em duas audiências, e ele mostrou arrependimento. Não aceitaria desculpas. Sou ameaçada de morte pelo pai dele. Por isso, estou sempre com alguém.
RECUPERAÇÃO
A cirurgia que mais preciso é para pôr prótese de cerâmica –que o SUS não fornece– no fêmur, para poder voltar a caminhar e trabalhar.
Preciso reconstituir a orelha direita, colocar fluído na cabeça para voltar a nascer cabelo, de um transplante de córnea, porque perdi 60% da visão do olho direito, e de reparação das queimaduras.
Descobri que não sou a única e decidi não ser mais uma. Um documentário sobre mim está sendo feito. Em setembro farei palestra ao lado da Maria da Penha [cujo caso inspirou lei homônima], num congresso em Salvador.
Lá, será lançado o Instituto Bárbara Penna (IBP) para auxiliar mulheres como eu.
Quero Justiça pelos meus filhos, pelo vizinho que morreu e por mulheres e crianças que sofrem e não têm voz. Tem dias que só quero ficar deitada chorando, mas consigo ter força por todas nós.
(…) Depoimento a
PAULA SPERB
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE (RS)

Projeto Fronteiras 1
Capacitação reuniu representantes da Rede de Atendimento e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas 
(Foto: Arquivo/Sejudh)

Um grupo de instituições, um mesmo objetivo: combater o tráfico de pessoas e outras formas de violência nas regiões de fronteiras. A iniciativa faz parte do Projeto Fronteiras, coordenado pela Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude (Asbrad).
A capacitação reuniu representantes das redes locais de atendimento e enfrentamento ao tráfico de pessoas, como o Conselho Tutelar, Exército Brasileiro, Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Civil, CRAS, CREAS, Consulado do Brasil na Bolívia, Rede Um Grito pela Vida, Seme de Brasileia, Ceam de Brasileia, e Abrigo de Criança e Adolescente Alto Acre.
O governo do Estado foi representado pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), por meio do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Acre (NETP/AC) e da Divisão de Apoio e Atendimento aos Imigrantes e Refugiados (DAAIR), e pela Secretaria de Estado de Política para as Mulheres (SEPMulheres).
O encontro foi realizado em Brasileia, no Centro de Atendimento para Mulheres (Ceam), entre os dias 5 e 6 deste mês. Com a temática “Atendimento Humanizado às Mulheres em Situação de Tráfico de Pessoas e Outras Formas de Violência nas
Regiões de Fronteiras”, o grupo discutiu a realidade da problemática nas fronteiras do Acre.

“O papel da Sejudh nesse encontro foi relatar os casos atendidos pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, buscando soluções para os casos e discutindo as políticas públicas voltadas ao enfrentamento desse crime”, comentou Lucinei Peres, coordenador do NETP/AC.
Por Ludmilla Santos

Projeto Fronteiras capacita Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

Projeto Fronteiras 1
Capacitação reuniu representantes da Rede de Atendimento e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas 
(Foto: Arquivo/Sejudh)

Um grupo de instituições, um mesmo objetivo: combater o tráfico de pessoas e outras formas de violência nas regiões de fronteiras. A iniciativa faz parte do Projeto Fronteiras, coordenado pela Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude (Asbrad).
A capacitação reuniu representantes das redes locais de atendimento e enfrentamento ao tráfico de pessoas, como o Conselho Tutelar, Exército Brasileiro, Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Civil, CRAS, CREAS, Consulado do Brasil na Bolívia, Rede Um Grito pela Vida, Seme de Brasileia, Ceam de Brasileia, e Abrigo de Criança e Adolescente Alto Acre.
O governo do Estado foi representado pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), por meio do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Acre (NETP/AC) e da Divisão de Apoio e Atendimento aos Imigrantes e Refugiados (DAAIR), e pela Secretaria de Estado de Política para as Mulheres (SEPMulheres).
O encontro foi realizado em Brasileia, no Centro de Atendimento para Mulheres (Ceam), entre os dias 5 e 6 deste mês. Com a temática “Atendimento Humanizado às Mulheres em Situação de Tráfico de Pessoas e Outras Formas de Violência nas
Regiões de Fronteiras”, o grupo discutiu a realidade da problemática nas fronteiras do Acre.

“O papel da Sejudh nesse encontro foi relatar os casos atendidos pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, buscando soluções para os casos e discutindo as políticas públicas voltadas ao enfrentamento desse crime”, comentou Lucinei Peres, coordenador do NETP/AC.
Por Ludmilla Santos

MP promete fiscalizar de perto respeito à cota eleitoral de gênero pelos partidos

Aconteceu na manhã desta terça-feira (19) o primeiro Encontro Propositivo pela Igualdade das Mulheres na Política, organizado pela Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo. O evento reuniu representantes partidários, juristas, integrantes do Ministério Público e de organizações da sociedade civil. O Instituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos foi uma das instituições apoiadoras.
Ao longo de toda a manhã foram apresentadas dezenas de propostas que, segundo o procurador eleitoral Luís Carlos dos Santos Gonçalves, serão sistematizadas, publicadas no portal da Procuradoria na internet e encaminhadas aos órgãos responsáveis. “Vamos consolidar todas essas proposições e encaminhar as que nos couberem. As que couberem, por exemplo, ao Legislativo, vamos encaminhar”, atesta o procurador.
Punições aos partidos que não cumprirem efetivamente pelo menos a cota de gênero instituída pela legislação foram defendidas sob diversas formas. Cassação do Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP), impugnando todas as candidaturas de uma legenda que descumprir a lei no tocante à representatividade das mulheres, suspensão ou desconto do fundo partidário foram algumas das sugestões levantadas. A Rede Feminista de Juristas também sugeriu que o Ministério Público Eleitoral e a Justiça Eleitoral monitorem se haverá atividades de campanha de todas as candidatas inscritas pelos partidos (quantidade de panfletos produzidos, criação de páginas na internet, etc) e seus gastos de campanha. O objetivo é que seja possível verificar ainda durante a campanha se as mulheres são candidatas reais ou apenas figurantes (ou laranjas).
O DRAP é o documento emitido pela Justiça Eleitoral que atesta a legalidade das chapas apresentadas pelos partidos e/ou coligações, contendo os nomes, números e cargos pleiteados pelos candidatos. Muitos partidos utilizam o mecanismo de indicar mulheres que não fazem campanha ou atuam em campanhas de outros candidatos – em geral homens – para burlar a regra que prevê no mínimo 30% de cada gênero nas nominatas apresentadas pelas legendas.
A promotora Ana Paula Mantovani Siqueira (coordenadora do Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral do Ministério Público Federal) afirmou que as procuradorias vão acompanhar muito enfaticamente o cumprimento da legislação.
Mais mulheres na política e mais diversidade entre as eleitas
Já a promotora de justiça Maria Gabriela Prado Manssur, convidada para a mesa de abertura do evento, ressaltou que “mulher na política é uma questão de identidade. Não são só as mulheres brancas que têm que estar, mas também as negras e de todos os recortes sociais.” A representatividade das mulheres negras, trans, lésbicas e bissexuais também foi defendida pela Rede  Feminista de Juristas, pela mulher trans integrante do Conselho Municipal de Políticas LGBT de São Paulo, Luiza Copieters, e por Maria Aparecida Pinto, do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra.
Na audiência, no entanto, não foram discutidas propostas relevantes, como a fiscalização da distribuição das verbas obtidas pelos partidos para o financiamento das campanhas eleitorais. Na eleição de 2014 o portal R7 fez um levantamento que verificou que as candidatas mulheres e postulantes negros receberam, em média, um terço do montante declarado pelos partidos como dinheiro recebido especificamente como doação eleitoral.
O fundo partidário é um mecanismo de assistência à organização política diferenciado das doações eleitorais. Constituído por dotações orçamentárias da União, multas, penalidades, doações e outros recursos previstos em lei, o fundo é repassado às agremiações em cotas mensais diretamente pelo Tribunal Superior Eleitoral, na proporção dos votos recebidos para o pleito à Câmara dos Deputados. A distribuição dos recursos do fundo partidário é disciplinada em lei, mas em relação às doações eleitorais não há nenhuma determinação legal sobre como o dinheiro deve ser distribuído internamente aos partidos.
Também não apareceu nos debates a importância de assegurar a representatividade étnica e racial nas propagandas eleitorais e programas partidários.
Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, destacou a necessidade de um esforço de produção de dados sobre as cidades que têm mulheres eleitas às câmaras municipais. “Não ter uma mulher tem um impacto significativo no pensar a cidade. Saúde, saneamento, transporte etc. são questões que afetam diretamente às mulheres.” Jacira defendeu ainda que as mulheres que se dispõem a ajudar seus partidos em detrimento da efetiva participação na disputa deveriam ser denominadas “figurantes”, e não laranjas, porque essa palavra tem uma carga moral muito negativa, que estigmatiza ainda mais o lugar das mulheres na política.
Igualdade distante
Em 1º de junho deste ano, o Brasil figurava na 153ª posição no ranking da União Interparlamentar (IPU na sigla em inglês) sobre representatividade feminina na política. Na Câmara dos Deputados as mulheres são pouco menos de 10% das cadeiras, apenas 2,2% negras (pretas ou pardas). No Senado, as mulheres são 16%. Na última legislatura apenas cinco das 27 cadeiras disputadas foram ocupadas por candidatas. Em toda a história da Casa apenas três mulheres negras foram eleitas. Na Câmara Municipal de São Paulo, dos 55 vereadores apenas cinco são mulheres e nenhuma autodeclarada negra, enquanto na população as mulheres são 52% e as negras, 49 milhões.

 Publicado por: Luciana Araújo/Agência Patrícia Galvão

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Matéria do Fantástico: Violência contra a mulher

                                                                                                                                                 



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Higienização das mãos pode evitar infecções hospitalares graves


lavar as mãos - caimacanulNo início de abril, saiu na imprensa a notícia sobre o mutirão de cirurgias de cataratas realizado em um hospital de São Bernardo do Campo. Dos 27 pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico, 21 apresentaram quadro de infecção e parte dos infectados perderam a visão. O diagnóstico foi de infecção hospitalar, com a presença da bactéria do gênero Pseudomonas, que aumenta o risco de morte. Há estratégias de prevenção e controle de infecção baseadas em evidências para que eventos como esse não ocorram.
Segundo a Coordenadora Estadual de Controle de Infecção Hospitalar da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, a médica Sibelle Buonora, “a questão das complicações envolvendo os mutirões de catarata é bastante preocupante. As complicações infecciosas envolvidas no procedimento quase sempre causam diminuição da qualidade da visão e/ou cegueira. Como todo procedimento cirúrgico, na cirurgia oftalmológica há necessidade da observância dos conceitos de cirurgia segura e da tomada de medidas de prevenção às infecções relacionadas à assistência à saúde”. Sibelle Buonora explica que tais medidas de prevenção às infecções devem ser implementadas envolvendo as diretrizes de identificação correta do paciente e do órgão a ser operado, lavagem de mãos antes e após o procedimento, uso de luvas adequadas ao procedimento proposto, observância às normas de esterilização de equipamentos cirúrgicos e emprego de antibióticos adequados quando indicado.
Segundo o infectologista, Ícaro Boszczowski, coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), “a literatura médica revela que em fontes de surto de infecções oculares a contaminação de soluções (colírios) usadas de maneira compartilhada entre pacientes e falhas no processo de manutenção de assepsia e antissepsia são apontadas como os principais responsáveis pela maioria dos casos publicados”. De acordo com Boszczowski, a prevenção de infecção hospitalar é um grande desafio. O HAOC desenvolve diversas estratégias, principalmente relacionadas a procedimentos cirúrgicos, para evitar casos como esse ocorrido no mutirão de cataratas de São Bernardo do Campo. “A prevenção de infecções relacionadas a procedimentos cirúrgicos é bastante complexa e envolve desde protocolos de limpeza, desinfecção e esterilização de materiais até a observação contínua do cumprimento das técnicas de assepsia e antissepsia, uso de antibiótico profilático no momento adequado e cuidados no pós-operatório. Nós temos, portanto, indicadores de todas estas etapas sendo monitoradas continuamente. Ter rastreabilidade dos materiais usados em procedimentos cirúrgicos é extremamente importante, ou seja, saber exatamente qual material e/ou medicação foi usado em cada paciente com número de lote e data. Ao se perceber casos incomuns de infecção que aparecem de maneira agrupada, é possível identificar rapidamente se há algum material e/ou medicação envolvido e interromper o surgimento de novos casos”, afirmou.
No caso do mutirão de cirurgias para cataratas, a infecção foi causada pela bactéria do gênero Pseudomonas, que é considerada uma bactéria resistente. Para combater a resistência microbiana, um problema de saúde de preocupação mundial, o hospital utiliza estratégias de vigilância constante de patógenos multidrogarresistentes (MDR). “A bactéria do gênero Pseudomonas é um patógeno frequente entre as infecções hospitalares e outras infecções relacionadas à assistência à saúde. Nem sempre essa bactéria apresenta-se de forma resistente aos antibióticos e a frequência com que isso acontece varia entre as instituições. O fato é que o número de infecções causadas por bactérias resistentes tem aumentado mundialmente. Este aumento deve-se, pelo menos em parte, ao uso indiscriminado de antibióticos e à disseminação da infecção entre pacientes por meio das mãos de profissionais de saúde. A Organização Mundial da Saúde lançou, em 2015, um alerta para este problema de saúde pública, conclamando os profissionais de saúde para o uso racional de antibióticos e apontando a necessidade de programas consistentes de higienização das mãos. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, fazemos vigilância contínua e sistemática de patógenos multidrogarresistentes (MDR). Todos os pacientes admitidos no hospital e provenientes de outras instituições ou que tenham fatores de risco para portar uma bactéria MDR são mantidos em precauções de contato (uso de avental e luvas para seu atendimento) até que os testes para identificação destas bactérias sejam negativos. Da mesma forma, se, ao longo da internação, alguma bactéria MDR for identificada, o paciente é imediatamente colocado em precauções de contato e, em algumas situações, pacientes do mesmo andar ou da mesma unidade são investigados para o reconhecimento de eventual transmissão e implantação de medidas de bloqueio. Analisamos continuamente a incidência de infecções por bactérias MDR no hospital para podermos atuar precocemente em casos de elevação inesperada destes índices”, destacou Boszczowski.
Entre as ações gerais de prevenção de infecção hospitalar, o infectologista destaca a higienização das mãos. “A estratégia de maior importância ainda é a higienização das mãos por parte dos profissionais de saúde sempre antes e após examinar o paciente ou prestar algum tipo de cuidado. Para que a adesão a esta medida simples seja universal, nós empreendemos no HAOC um esforço grande para manter um programa de educação continuada em higienização das mãos. A fim de garantir estrutura excelente para a higienização adequada, revisamos continuamente as pias, dispensadores de sabão e papel toalha, além dos dispensadores de álcool de todo o hospital. Estes pontos de higienização de mãos não devem estar a mais de cinco passos do leito do paciente. Em alguns períodos (sem aviso prévio), observamos a adesão à higienização das mãos por parte dos profissionais de saúde durante o atendimento ao paciente. Após estas auditorias, nós apresentamos os resultados para os profissionais da instituição e discutimos os números. Os dados são apresentados em proporção de oportunidades aproveitadas. Por exemplo, se um profissional teve dez oportunidades para higienizar suas mãos durante um atendimento e o fez em apenas oito, terá 80% de aproveitamento. A análise contínua destes dados de consumo e aproveitamento de oportunidades, aliada a atividades de reforço positivo desta prática, tem apresentado grande sucesso no aumento da adesão”, detalhou Boszczowski, ratificando que o apoio e o comprometimento da alta administração são aspectos fundamentais para o sucesso de qualquer campanha de higienização das mãos nos hospitais.
Por fim, Sibelle Buonora comentou que, em termos de políticas públicas específicas para a cirurgia oftalmológica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está em fase de revisão do pacote de orientações para cirurgias oftalmológicas seguras, mas que, ainda assim, há documentos orientadores das medidas para a higienização das mãos e para a realização de cirurgias seguras universais que podem ser implementados em qualquer tipo de cirurgia.
Isis Breves (Proqualis/Icict/Fiocruz)