sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Chefes de família, mulheres ainda sofrem com a violência e desigualdade no trabalho

O primeiro passo para mudar a realidade das mulheres brasileiras é esmiuçar a forma como elas vivem. É com essa proposta que a Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal lançou o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam). O documento traz um diagnóstico do papel feminino em temas como família, trabalho, saúde e lazer, e busca a avaliação das políticas públicas nessas áreas, além de oferecer para a sociedade um panorama das questões relativas ao empoderamento. A partir da análise dos dados, foi possível constatar o aumento da porcentagem de mulheres que chefiam o lar e o crescente acesso à escolaridade, em detrimento de índices assustadores de violência e desigualdade de gênero no mercado de trabalho. Confira as conclusões estabelecidas nas diferentes área:
Família - O relatório mostra que a organização familiar brasileira vem se modificando. O número de famílias monoparentais, em que os filhos são criados por apenas um dos pais, está crescendo no País. No Nordeste, onde essa tendência se mostrou mais forte, 18,7% das famílias têm apenas a mulher no comando. Nas áreas urbanas brasileiras, cerca de 40% dos lares são chefiados por mulheres. O valor é expressivamente maior que nas áreas rurais, e é reflexo, entre outros fatores, da inclusão delas no mercado de trabalho e do aumento da escolaridade feminina – que ultrapassa a dos homens em quase todas as faixas etárias.
Trabalho - Quando o assunto é o universo profissional, os dados mostram que muitas mulheres em idade ativa continuam desempenhando exclusivamente atividades familiares, o que fica explícito na discrepância entre as taxas de atividade: 86,5% dos homens, entre 16 e 59 anos, participam do mercado de trabalho, enquanto esse número cai para 64% entre as mulheres. Apesar de elas terem conquistado espaço em carreiras tidas como “masculinas”, a maioria ainda trabalha em áreas que estão vinculadas aos papéis que são “atribuídos” pela sociedade, como alimentação, educação e serviços domésticos, como se o trabalho fosse uma extensão do lar.
No quesito remuneração, a desigualdade é alarmante. As mulheres com mais de 12 anos de estudo recebem, em média, 65% do salário de homens com formação igual. Apesar de qualificado, o contingente feminino precisa, muitas vezes, lidar com o preconceito e enfrentar a dupla jornada, se dividindo entre a profissão e o serviço doméstico. No Brasil, a proporção de mulheres com 16 anos ou mais que declaram realizar trabalho doméstico é de 68%, enquanto entre os homens esse número cai para 32%.
Política – A eleição de Dilma Rousseff foi importante para o empoderamento das mulheres na política, mas, apesar de constituírem 52% do eleitorado brasileiro, o acesso feminino aos cargos políticos ainda é baixo. Algumas medidas foram aprovadas em 2009 para melhorar a situação, entre elas a determinação de que os partidos devem inscrever um percentual mínimo de candidatas para as eleições legislativas. O relatório mostra que essas ações já trouxeram resultados: entre 2010 e 2012, o número de candidatas a cargos eletivos cresceu de 20,3% para 31,9%. Esse aumento não refletiu, no entanto, no percentual de mulheres eleitas. Nos cargos legislativos a participação feminina não chega a 15%.
Justiça social - No capítulo destinado à violência, uma pesquisa identificou que 13,5 milhões de mulheres já sofreram algum tipo de agressão. Dados do Poder Judiciário indicam um aumento da taxa de homicídios nos últimos anos. Entre 1990 e 2000 foram assassinadas 4,3 mulheres para cada grupo de 100 mil. Em 2010, essa taxa foi de 4,6 mortes, segundo informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A análise feita no relatório aponta que o enfrentamento à violência contra as mulheres requer a ação conjunta dos diversos setores envolvidos com a questão como saúde, segurança pública, justiça, educação, trabalho, habitação, assistência social, entre outros.
Saúde - Passados mais de 50 anos da criação da pílula anticoncepcional, o uso dos métodos contraceptivos ainda não se tornou universal. As brasileiras mais pobres possuem dificuldades de acesso a esses métodos, e a esterilização, prática mais invasiva e definitiva, é mais comum. O uso dos contraceptivos também está relacionado à idade, uma vez que 36% das mulheres de 15 a 19 anos utilizam algum método, enquanto dos 25 aos 49 anos o número é maior que 70%. O relatório ainda destaca que o uso de preservativos é muito pequeno em relação aos outros métodos. Apenas 13% das entrevistadas são adeptas, ainda que seja o método mais seguro para proteção contra doenças sexualmente transmissíveis.

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