segunda-feira, 16 de maio de 2016

Programas de rádio discutem direitos das mulheres na epidemia de zika

Iniciativa é uma parceria com a ONU e o governo brasileiro. Com quase 35 anos de trajetória, o programa ‘Viva Maria’ passa a ter duas edições extras por semana – nas quartas e sextas-feiras. Conteúdos são oferecidos para mais de 2 mil emissoras de rádio, com distribuição pela Radioagência Nacional.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

As ondas do rádio estão propagando mais informação sobre saúde e direitos das mulheres devido à epidemia de zika vírus. Com quase 35 anos de trajetória, o programa “Viva Maria”, apresentado pela jornalista Mara Régia, tem duas edições extras por semana – nas quartas e sextas-feiras acrescidas de reprises nas segundas-feiras –, inaugurando o programete “Viva Maria com Saúde”.
Veiculados na Rádio Nacional da Amazônia, os programetes são distribuídos pela Radioagência Nacional, que oferece conteúdos para mais de 2 mil emissoras de rádio do país.
A iniciativa começou no último dia 2 de março, como resultado de parceria entre a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ONU Mulheres Brasil, Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) e Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos, sobre saúde das mulheres em tempos de crise sanitária provocada pelo Aedes aegypti.
No final de fevereiro, o representante do UNFPA para o Brasil, Jaime Nadal, falou sobre a parceria, em entrevista que abordou também os impactos do zika nas decisões reprodutivas de mulheres e casais e a importância de se ampliar a oferta de informações e métodos contraceptivos para que as mulheres em idade fértil possam tomar suas decisões.
A primeira entrevistada do ‘Viva Maria com Saúde’ foi a diretora regional da ONU Mulheres para Américas e Caribe, Luiza Carvalho. Na entrevista, ela chamou a atenção que a resposta à epidemia deve adotar o empoderamento das mulheres como princípio.
“Mais do que nunca nós temos de contar com os serviços de saúde disponíveis, para dar informação correta e aconselhamento, mas também a uma gama de direitos. As mulheres têm de ter, acima de tudo, o direito de optar qualquer que seja a sua decisão, ter condições mínimas de tomar decisão livre de qualquer estigma, preconceito e pressão social”, disse.
Na entrevista, a representante da ONU Mulheres frisou a importância da distribuição de métodos contraceptivos. “Observamos que há boa vontade e universalização do serviço de saúde no Brasil. Tem que estar lá a pílula de emergência [pílula do dia seguinte], métodos contraceptivos, informação e aconselhamento. Observamos que é preciso ter esses reforços”, afirmou Carvalho.
A diretora falou, ainda, sobre o impacto social na vida das mulheres, provocado pelas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti: dengue, chikunguya e zika.
Segundo ela, nas pessoas em que as enfermidades são mais brandas, há um custo que precisa ser avaliado, pois “pode tirar a pessoa, duas a três semanas do seu trabalho, impedir o cuidado do seu grupo familiar e que não participe de movimentações sociais e organizações comunitárias”, completou.

Vulnerabilidade das mulheres negras

A segunda entrevista da semana foi com a enfermeira Emanuelle Goés, integrante da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras. Moradora de Salvador, a profissional comentou que a Bahia registrou os primeiros casos. Desde o início da epidemia, em outubro de 2015, há 34 mil notificações da doença do vírus zika vírus, sendo 65% de mulheres.
“A gente precisa pensar onde as mulheres negras estão inseridas, a exemplo do em saneamento básico e saúde preventiva. A AMNB [Articulação de Mulheres Negras Brasileiras] está levantando quem são as mulheres mais vitimizadas por esse grande caos”, afirmou Goés.
Para a enfermeira, um dos maiores desafios da saúde é fazer chegar as políticas, entre elas a Política Nacional de Atenção à Saúde Integral da Mulher e Política de Saúde Integral da População Negra, sendo esta 70% dentre as usuárias e os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Há dificuldade para que o serviço responda às políticas. Há dificuldade para que sejam executadas na ponta. Isso quer dizer saúde da mulher, métodos contraceptivos sejam amplamente distribuídos nos serviços”, concluiu.

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