segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Em ato de homenagem à memória de Margarida Maria Alves, filho de ativista envia carta à presidenta Dilma

José Arimateia (filho de Margarida), militantes e gestores resgatam legado da líder assassinada, em 12 de agosto de 1983 Foto: Isabel Clavelin/SPM

Data: 12/08/2013

Documento foi entregue em mãos à ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci, contemporânea da trabalhadora rural e sindicalista

Bandeirolas espalhadas pelo município relembram o rosto negro, altivo e sereno de Margarida Maria Alves, assassinada há exatos 30 anos, sem que os culpados tenham sido julgados e punidos. Crime impune, mas que não silencia a luta das mulheres camponesas nem daquelas pessoas que sonham com a justiça social no Brasil. 

Filho único de Margarida, José Arimateia Alves compartilhou a dor e o trauma de ter visto sua mãe assassinada na sua frente e de seu pai, em 12 de agosto de 1983. “Hoje ela estaria com 80 anos de idade. Ah, como eu queria que a minha mãe estivesse aqui. Mas eu sei que ela contribuiu para que hoje, cada companheira e companheiro que está aqui. Mantenham viva a chama da esperança”, incentivou.

Arimateia registrou o legado de sua mãe, em especial para os direitos trabalhistas. “Ela deu a vida para aqueles que mais precisavam. Precisavam da carteira de trabalho assinada. A luta contra o desemprego”, disse. Das parcas lembranças, revelou a Margarida que concentrava seu tempo na luta coletiva, deixando-o aos cuidados da avó. “Era mulher que pouco ficava em casa, passava mais tempo fora, em reunião com trabalhadoras e trabalhadores”, revelou ele, pai de quatro filhos.

E denunciou a conivência do poder público com a impunidade do crime contra a sua mãe. “Os mandantes e aqueles que contribuíram com a morte de minha mãe, muitos deles já morreram. O crime continua impune. O estado, na época, negligenciou. Meu pai vai morrer com essa tristeza. O estado da Paraíba fez muito pouco para colocar os assassinos na cadeia”, manifestou o filho cujo pai tem 92 anos e já não o reconhece mais. Ao final de sua fala, Arimateia fez um pedido: “ministra Eleonora, entregue, por favor, essa carta à companheira Dilma Rousseff”.

Demandas campesinas - Dirlei Aparecida, integrante do Movimento Sem Terra e organizadora do Encontro Nacional de Dirigentes Camponesas “30 Anos sem Margarida Alves, Impunidade e Lutas com Conquistas”, informou as mobilizações no Nordeste para redistribuição de terras. “Ao comemorar o resgate de vida e obra de Margarida, que esse ato nos encha de energia e nos faça seguir sonhando. Ela sonhava com bandeiras fortes, como a reforma agrária nesse país”. A liderança pediu a reabertura de escolas no campo e políticas para fixação da juventude nas áreas rurais.

Articuladora da Marcha das Margaridas, Alessandra Lunas, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura (Contag), comentou o valor da ativista para trabalhadoras rurais. “É desse símbolo de luta e parte desse legado de Margarida Maria Alves que nós, mulheres, tiramos força e nos inspiramos para segurar o dia a dia. É desse legado de Margarida Maria Alves que, desde 2000, nasceu a Marcha das Margaridas para dar mais visibilidade às mulheres do campo e à luta contra a violência vivida por elas. É com essa inspiração que a última marcha colocou em Brasília quase 100 mil mulheres na rua. A pauta da violência, ministra, a gente sabe que essa sempre foi a pauta principal”, frisou, voltando-se à ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR).

Integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) no assento da Contag, Alessandra pontuou que as “unidades móveis surgem do processo de mobilização das mulheres, de dizerem o que querem e colocar na mesa do governo federal. E é lógico que faz muita diferença, ministra Eleonora, a gente ter uma mulher eleita presidenta nesse país, que ouve o que as mulheres têm a dizer e consegue dar essa prioridade”, analisou.

Controle social dos veículos - Em seguida, Alessandra convocou o controle social para a boa gestão das 54 unidades móveis que serão entregues aos governos estaduais, duas por ente federativo. “As unidades móveis fazem parte da conquista da Marcha das Margaridas. Todas as margaridas aqui presentes, essa unidade móvel só vai funcionar se cada uma de vocês se mobilizar, discutir e realmente colocar essa unidade para circular”, afirmou. 

O prefeito de Alagoa Grande, Hildon Navarro Filho (PR-PB), qualificou o crime contra Margarida Alves como “episódio vergonhoso da história desse país. Além de covarde, foi hediondo, foi cruel sem condição de mínima defesa. Assassinato encomendado e que terminou na impunidade”, considerou dizendo que ela tinha “coragem nas veias”. 

Desenvolvimento para o Nordeste - Mostrando-se atento às demandas do campo e desigualdades regionais, o governador Ricardo Coutinho (PSB-PB), reiterou o compromisso firmado com a ministra Eleonora. “Saiba que esse ônibus só poderia ter sido feito entregue aqui para marcar dos 30 anos de morte de Margarida Maria Alves. Essa luta do povo não pertence a alguém não pertence a um partido, mas a capacidade de superação de um povo, sobretudo, o nordestino. Essa região era muito desigual e ainda temos desigualdades profundas que precisam ser superadas. O Nordeste só avança se tivermos soluções inteligentes para o semiárido, com inclusão social e desenvolvimento da economia”, argumentou.

Faces da violência de gênero - Feminista, a secretária da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba, Gilberta Soares, revelou sua indignação com a violência de gênero. “É um absurdo e constrangedor que uma mulher morra pelo fato de ser mulher por causa da violência física, sexual, psicológica, moral e patrimonial. Essa que é muito presente na área rural. Vocês sabem disso. É muito salário que é tomado, são os documentos escondidos para que a mulher não tenha liberdade de ir e vir”, questionou. 

Como gestora estadual do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, coordenado pela SPM, Gilberta salientou o envolvimento do poder público e da sociedade na gestão dos veículos. “A unidade móvel está aqui. A gente vai construir  essa política em parceria. Uma política desse tamanho não se faz sozinha. É a parceria do governo federal com o governo do estado e os municípios. A gente precisa dessa parceria, com os sindicatos rurais e as mulheres para a gente poder chegar em todo o lugar, em cada assentamento desse estado  poder resgatar e apoiar as mulheres que sofrem violência”, destacou.

Dentre as autoridades estiveram presentes: a secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da SPM, Aparecida Gonçalves; a assessora especial da SPM para Questões do Campo e da Floresta, Raimundinha Mascena; e a diretora de Políticas para as Mulheres Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Karla Hora.

Confira:


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Comunicação Social
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM
Presidência da República – PR


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