Com o objetivo de avaliar a
integralidade do cuidado no cotidiano dos serviços da Estratégia de Saúde da
Família (ESF), utilizando mulheres em idade reprodutiva e tendo a gestação como
fator determinante, as pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde Pública
(Ensp/Fiocruz) Maria de Fátima Lobato, Maria Helena Mendonça e Rosa Maria da
Rocha escreveram o artigo Práticas em saúde no contexto
de reorientação da atenção primária no Estado do Rio de Janeiro, Brasil, na
visão das usuárias e dos profissionais de saúde, publicado no
periódico Cadernos de Saúde Pública. A pesquisa, de
cunho qualitativo, foi realizada em quatro municípios, escolhidos em um
conjunto de 22 com mais de 100 mil habitantes que aderiram ao Projeto de
Expansão de Estratégia Saúde da Família (Proesf). Os dados são provenientes da
realização de grupos focais com usuárias e profissionais de
saúde. O estudo investigou o funcionamento das modalidades de
atenção, o desempenho e a oferta de atenção integral em si e
em articulação com serviços de outro nível.
Gestantes
e mulheres em idade reprodutiva foram fonte de informações para a pesquisa
(Foto: Datasus)
Segundo o artigo, para as usuárias
das Unidades de Saúde da Família (USF), existe diferença entre o cuidado
realizado pela equipe da USF e da Unidade Básica de Saúde (UBS). Isso é
percebido, principalmente, por meio da busca ativa dos agentes de saúde como
fator fortalecedor do vínculo dos usuários com as unidades de saúde. A
respeito da integração, usuárias de um dos municípios avaliados destacaram
como facilitadora a possibilidade de concentração de seus dados no cartão do
PSF.
O estudo detectou que o acesso
ao serviço e às ações se diferenciaram na USF pela responsabilização da
equipe de saúde pelos sujeitos atendidos e pela busca ativa dessa
população. O estudo indica que processos de trabalho que contemplem a determinação
social da saúde e a intersetorialidade conduziriam à ampliação do acesso e do
cuidado integral da saúde da mulher na fase reprodutiva.
A pesquisa também mostrou uma
significativa diferença do tempo de utilização dos serviços de saúde entre as
usuárias das USF e das UBS. "Identificou-se um maior número de usuárias
das UBS que utilizam o serviço por um tempo que varia de um mês a um
ano, justificado pela maior presença de mulheres grávidas pela primeira vez e
pela falta de vínculo da clientela nessas unidades. Entre gestantes das USF,
uma parte utilizava a unidade entre um a cinco anos e outra parte entre cinco
a dez anos, mostrando que o vínculo com a USF é um fato relevante em
municípios onde a implantação de equipes da Saúde da Família já é adotada por
mais de cinco anos", diz o artigo.
De acordo com o artigo, as
usuárias construíram o conceito de saúde sob três enfoques: "conceito
ampliado" - incluindo condições e estilo de vida, especialmente no que
diz respeito à relação entre configuração de pobreza e estar saudável; "relação
com acesso ao serviço" - notadamente à consulta médica e à possibilidade
de realizar exames; e o "enfoque avaliativo" - das condições de
oferta de serviços do município. Nas percepções sobre saúde de usuárias e
profissionais, há indicações claras da urgência de práticas inovadoras em que
as ações levem em consideração as condições do meio e os estilos de vida
pessoais e comunitários, seguindo a concepção de Atenção Primária à
Saúde orientada à comunidade.
"Outro aspecto considerado é a
inexistência de estruturação em rede dos serviços, o que compromete a
consolidação da Estratégia de Saúde da Família como eixo de reorientação do
sistema de saúde", ressaltam as autoras no artigo. Elas lembram que essa
consolidação também pode ser comprometida pela existência de um ponto de
tensão entre os profissionais de referência e os do nível primário sobre o
papel da atenção básica como porta de entrada do sistema de saúde. Para
completar, o artigo indica que, de maneira geral, ficou evidente a
percepção entre usuárias e profissionais (UBS, USF e serviço de referência),
mesmo que diferenciada quanto à visão de mundo própria a cada grupo, sobre
as dificuldades do sistema de saúde como um todo, ressaltando, em
particular, a falta de coordenação e integração da rede.
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